segunda-feira, 16 de julho de 2007

SALA DE LEITURA
MATEMATICA É UMA OPINIÃO
Original de GAETANO GHERARDI


Oi!
Todos juntos no Bar do Juca.
Epaminondas, o cientista político; Tonhão, o farmacêutico; Hildebrando, que continua seu protesto falando em siglas e naturalmente Julio César da Silva que transforma as siglas em linguagem inteligível; Annunziata e Malaquias; Domitila, a minha secretaria e o namorado dela, o Narciso; Pafuncio, que protesta sempre contra os impostos e finalmente Raimundinho, que dispensa apresentações e o Juca, o dono do Bar. Esqueci do Lírio, o garçom, que sempre dá um jeito de ficar por perto.
Pafuncio estava muito bravo.
Raimundinho percebeu e provocou:
- Descobriu mais um imposto, Pafuncio? Você está com cara de poucos amigos...
Pafuncio deu até um sorriso, meio nervoso e começou a explicar:
- Desta vez estou bravo contra os que usam a matemática como se realmente fosse uma opinião. E o pior é que passa a ser mesmo.
Entrei na conversa:
- Acredito que estamos todos boiando. Você explica?
Pafuncio não queria oportunidade melhor:
- Claro que explico e tenho certeza de que vocês vão concordar comigo e ficar aborrecidos. Vou começar com a surpresa da matemática bancaria.
Não, não tenho nada contra os Bancos, apenas uma constatação. Cansado do juro sobre juro e outras coisas que a gente pensa que está pagando, zerei minha conta. Zerei. Ou seja, vendi o que consegui vender, mas deu para zerar minha conta. Todo feliz, falei com a minha “gerente”. “Agora estou tranqüilo?” A resposta dela foi muito encorajadora: “Com certeza!”.Ela esqueceu de me avisar de que os “juros” do mês todo eram calculados e colocados na conta no fim de cada mês. Tradução: cinco dias depois estava devendo de novo...
Eu confesso que não entendi bem a historia do Pafuncio.
- Pafuncio, não entendi muito bem o que você falou.
Ele respondeu mais uma vez com aquele estranho sorriso entre o amarelo e a raiva:
- Estou devendo de novo. Deu para entender?
- Deu, mas então você devia ter deixado algum para pagar eventuais surpresas sem entrar no que chamamos de “vermelho”. Alias, nem sei porque este “vermelho” como definição de uma situação critica nas, digamos, “finanças”.
- Talvez, mas vamos a outros matemáticos. Eu tenho uma amiga que financiou um apartamento há mais de quinze anos e continua devendo o total do empréstimo. Passo a informação como a recebi. Sem duvida, se ela falou a verdade, e não tinha motivo de mentir, outra maneira de utilizar a matemática, a ciência exata com um ponto de vista diferente. Não acham?
O Lírio que tinha se afastado para trazer outra rodada dos pasteizinhos gostosos e dos etceteras, chegou nos livrando de uma resposta. Raimundinho não estava satisfeito. Depois de experimentar a nova remessa de pasteis, apertou o Pafuncio para que continuasse seu desabafo.
- O que você contou, Pafuncio, não é muito novidade. A matemática continua sendo uma ciência exata com, digamos, interpretações diferentes do que a lógica sugere. Gostaram da minha definição? Gostaram?
Pode ser que alguém tivesse gostado, mas ninguém se pronunciou. E Pafuncio continuou:
- Pois é. Definições não são tão difíceis. Difícil é você ser vitima de situações que, embora tenha, às vezes involuntariamente ou por ignorância, provocado, são definitivas.
- Por exemplo?
- Mais um exemplo? Este é final. Antes quero insistir que todos nos somos feministas. Certo?
Raimundinho respondeu por todos.
- Certíssimo!
Pafuncio encerrou com mais uma prova que a matemática é uma opinião.
- Minha mulher, vocês todos conhecem, Marieta. Ela quase nunca aparece nas nossas reuniões porque diz que coincide o horário com outras coisas com as quais ela está comprometida. Mas vamos ao que interessa.
Estou cansado de saber a idade dela. Pois vocês acreditam que começou a retroceder? Cada ano que passa, ela tem dois a menos. E faz questão de dizer logo para mim.
Foi Domitila, minha secretaria, quem encerrou o assunto.
- Pafuncio não leve a mal. Idade é uma opinião, não a matemática!