sexta-feira, 13 de julho de 2007

SALA DE LEITURA
O GRANDE VENDEDOR
Uma crônica de GAETANO GHERARDI

Oi!
Na semana seguinte aquela informal reunião, regada a cerveja, no Bar do Juca, quando o Epaminondas anunciara sua equipe para o escritório de assessoria política, Domitila entrou na minha salinha e anunciou o Raimundinho.
Raimundinho entrou meio capisbaixo.
- Que é que aconteceu?
- Gherardi eu preciso de sua ajuda.
- Se depender de mim, conte comigo.
- Na equipe do Epaminondas eu assumi as vendas. Ou seja: conseguir quem quisesse a tal assessoria.
- Eu sei, eu estava lá.
- Eu contava que você não fosse me dar a lista dos seus amigos candidatos, mas contava com a Domitila para ela me dar...
- Contou errado. Domitila é de toda confiança.
- Agora, tenho certeza Mas você pode me ajudar.
- Não tenho lista de amigos e meus amigos confiam em que eu preserve a privacidade deles.
- Tudo bem. Eu só quero o endereço de um: o grande vendedor. Só você tem.
- Não sei do que você está falando.
- O Alvim. Não sabe quem é?
- Claro que eu sei.
- Aquele que apareceu, em Campinas, quando o Juventino Castiço montou um escritório de assessoria política, como bom cientista político que ele é. Lembra?
- Lembro. O Alvim com o passar do tempo ficou meu amigo, mesmo.
- A última noticia que tenho dele, do próprio Juventino, é de que se mudara para Americana.
- Correto.
- Lembra o método que ele usava para vender? Usava a emoção. Emoção de verdade. Ele chegava para o cliente em perspectiva e dizia: “ Eu não vim vender nada. Afinal eu sou um péssimo vendedor. Você não vai comprar nada. Eu sou um péssimo vendedor. Tem dezenas de escritórios de assessoria que podem atender você. Não há um motivo que seja para você me atender. Não me atenda mais. Eu sou um fracasso. Só sirvo para dar sorte para os meus “clientes”.” E quase chorava. Lembra do Alvim?
- Já falei que lembro, Raimundinho. Vendeu tanto que em três meses comprou um carro zero quilômetros, com parte dos resultados. Ele usava a emoção para vender. A emoção sempre dá resultado. Tinha descoberto uma formula longe do humor, da insistência, de outros sistemas e deu certo. Usando emoção, naturalmente.
Raimundinho fez uma cara aborrecida.
- Se eu quisesse aula de comunicação, assistiria uma palestra sua, Gherardi, em alguma Faculdade, ou Associação cultural...Eu tentei usar o sistema do Alvim.
- E daí?
- Daí, quando chegou a hora em que eu disse “ Você não vai me atender mais..só sirvo para dar sorte para os meus clientes...” O cara falou: “ Você está com toda razão e como eu não sou supersticioso, vai dando o fora, sim?”
- Uma andorinha não faz o verão.
- Que sabedoria, Gherardi, estou impressionado. Na segunda tentativa, o cara ficou bravo comigo: “Se você já sabe que eu não vou comprar, para que você vem ocupar o meu tempo?!” Passe o telefone do Alvim.
- Nada feito Raimundinho. O Alvim está viajando. Está na Europa. Construiu uma pequena fortuna com o sistema de venda dele. Abriu uma loja e viajou com sua pequena família para Portugal.
Raimundinho ficou paralisado com a noticia. Deu a impressão até que estivesse pensando. E finalmente falou:
- Qual é o nome da loja?
- “Emoção positiva!”
O Raimundinho chegou a me comover.
- Só tem uma solução. O Epaminondas desistir de seu escritório de assessoria para políticos. Eu reconheço meu fracasso como vendedor. Só que ninguém fica com pena de mim...
- Meu amigo Raimundinho, seja criativo. O que é bom para o Alvim...
- Lição de moral, agora? Você pensa que é quem? Na verdade já é tarde para começar o escritório de assessoria, vamos manter a equipe unida – estão todos desempregados – e vamos achar outra coisa para fazer. A união faz a força.
- Com certeza. Contem comigo.
- Exatamente o que não vamos fazer mais.

Endereço eletrônico: gaetanogherardi@yahoo.com.br